O Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPR), vinculado à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, exigiu nesta segunda-feira (8) que a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tome as medidas cabíveis para apuração e penalização dos responsáveis por um trote, considerado racista, realizado em março por estudantes de direito para receber calouros do curso.
Em moção de repúdio publicada nesta segunda-feira no Diário Oficial da União (DOU), o conselho ainda exige que a universidade pública preste informações sobre as medidas adotadas para que as práticas criminosas não se repitam. No documento, o conselho manifesta “absoluto repúdio aos injustificáveis episódios de racismo e violência contra a população negra, especialmente contra as mulheres e a juventude, ocorridos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por ocasião da “recepção a calouros” do Curso de Direito.
O trote gerou grande polêmica nas redes sociais. Em uma das fotos, uma caloura pintada de preto aparece acorrentada junto a uma placa com a inscrição “caloura Chica da Silva”. Em outra imagem, três estudantes, um deles com um bigode semelhante ao do ditador Adolf Hitler, fazem saudações nazistas ao lado de um calouro preso a uma pilastra com fita adesiva.
“A imagem divulgada nas redes sociais e nos meios de comunicação remete-nos à prática recorrente de menosprezo e depreciação da mulher negra, desta vez com alusão descabida à Francisca da Silva de Oliveira, conhecida como Chica da Silva, figura histórica, ligada ao Estado de Minas Gerais que, tendo conquistado sua liberdade foi referência de ascensão social do negro durante o Império”, diz o texto do conselho.
“Por sua altivez, e por ter ousado impor-se às “tradições” e às expectativas sobre o comportamento dos negros em sua época, foi violentamente agredida em sua dignidade, tendo sido vítima de ofensas e achincalhes que se repetem nos dias de hoje, numa demonstração de perpetuação do racismo até mesmo em espaços como o acadêmico, onde deveriam prevalecer os ideais dos Direitos Humanos e da civilidade”, critica.
Na moção, o conselho destaca que houve no trote diferentes elementos da ação racista e discriminatória: “a depreciação da imagem da pessoa negra, que é representada como objeto de escárnio e menosprezo; e a inferiorização e desumanização da estudante negra, pintada de piche e puxada pelo aluno branco por uma corrente atada ao pescoço da “escrava”.
A vice-reitora da UFMG, Rocksane Norton, informou que a moção de repúdio do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial está dentro do esperado pelos trabalhos realizados pela entidade. “Não é nenhuma surpresa para nós, mesmo porque nós também o fizemos internamente no dia 19 de março”, disse Rocksane se referindo a uma nota de repúdio ao trote publicada em 12 março em que a universidade.
Além disso, a vice-reitora garantiu que a Comissão de Sindicância, designada no dia 19 de março para apurar o caso e punir os envolvidos, tem um prazo de 30 dias, que pode ser prorrogado por mais 30, para apresentaram o resultado dos trabalhos. O mesmo acontece para o caso do professor do Centro Pedagógico (CP) que foi acusado de chamar um aluno de “macaco”.
(*) Atualizada às 16 horas – Com Hoje em Dia.