Empresa que criou dispositivo “anti-coronavírus” em MG espera vender 10 mil unidades até o fim do ano

Bebedouro com ÁguaàLaser que pode ser usado em indústrias, academias, escolas e outros locais com grande fluxo de pessoas. Foto: Pedro Brum.

O equipamento ÁguaàLaser, que libera água via sensor por aproximação e permite retirar o líquido sem ter que tocar em botões ou torneiras, já é usado em academias, supermercados e instituições de ensino; sensor desenvolvido pela empresa mineira Beloar supera a tecnologia de grandes indústrias nacionais e internacionais

Após anunciar ao mercado o lançamento do inovador dispositivo ÁguaàLaser, a empresa mineira Beloar segue de forma intensa com a produção do equipamento, pois existe uma grande demanda para a invenção, que já está sendo utilizada por negócios de diversos segmentos, como, academias, supermercados e instituições de ensino. De acordo com o diretor da organização, o jovem empreendedor Muriel Ornela, a expectativa é que 10 mil unidades sejam vendidas em todo o país até o fim do ano.

Por mais que o uso do ÁguaàLaser tenha sido mais demandado nestes tempos de pandemia, o equipamento foi criado antes do surto de coronavírus, a pedido de empresas do setor de frigoríficos. Mas, com a pandemia de Covid-19, a busca por soluções que ajudem a evitar a disseminação do vírus acabou encontrando na invenção uma alternativa segura e barata para frear os casos de contaminações via contato físico.

A invenção, que teve o pedido de patente solicitado pela empresa, consiste em um sensor infravermelho que detecta quando a mão se aproxima do bebedouro ou torneira, o que libera o líquido sem a necessidade de tocar em botões, abrir ou fechar o registro. “O dispositivo foi desenvolvido com o objetivo de evitar a contaminação cruzada em frigoríficos, de animais para pessoas ou vice-versa. Essa demanda partiu de grandes empresas que solicitaram um produto touchless, que permitisse a retirada de água para consumo humano sem precisar encostar”, explica Muriel Ornela, CEO da Beloar.

O empreendedor afirma que o investimento para o desenvolvimento do produto passou dos R$ 100 mil, com recursos da empresa e linhas de crédito de instituições financeiras parceiras. “Em relação à mão de obra empregada, contando horas de design, engenharia de software, hardware, elétrica e resistência de materiais, foram aproximadamente R$120 mil. Isso sem contar estoque e a perda de alguns protótipos devido a identificação de falhas que foram corrigidas posteriormente”, conta.

O CEO da Beloar está satisfeito com a repercussão do produto e espera ter o retorno do valor investido em breve. “Nós aproveitamos a taxa de juros baixa e conseguimos boas linhas de créditos junto às instituições financeiras parceiras da empresa para financiamento do desenvolvimento do produto e capital de giro para a aquisição dos insumos. Ao contrário de muitas empresas que neste período de pandemia foram pela via de contenção de gastos, visualizamos esta oportunidade iminente de suprir a demanda que ocorreria por bebedouros touchless”, lembra.

E as decisões de Muriel Ornela à frente da Beloar foram assertivas, pois o surto de Covid-19 criou uma oportunidade de mercado para a empresa. “As diretrizes do MEC e da Anvisa instituíram que os bebedouros públicos deveriam ser isolados, e que os usuários e alunos deveriam levar a garrafinha de água de casa e não poderiam utilizar os bebedouros. Com a instalação das torneiras sem contato os equipamentos poderão voltar a ser utilizados e as empresas, corporações, instituições públicas e escolas poderão voltar a oferecer água para seus usuários com segurança. Acreditamos que conseguiremos recuperar o investimento em poucos meses, visto que muitas instituições federais, estaduais e municipais, como universidades e órgãos públicos, já estão abrindo licitações de compras ao enxergar o produto como uma medida preventiva de contenção de doenças, promovendo o cuidado, proteção da sociedade e a inclusão social”, explica o líder do negócio.

O empresário ressalta que não é preciso trocar os bebedouros que já estão instalados. “Criamos um adaptador universal para transformar as torneiras comuns em touchless, o que proporciona mais segurança, comodidade e economia, já que a água só sai quando alguém está com as mãos à frente da torneira”, explica Muriel Ornela.

De acordo com o jovem empresário, já há uma encomenda de 2000 peças para universidades federais e órgãos públicos estaduais, além das solicitações de revendedores de outros estados. “A nossa principal preocupação é conseguir atender a toda a demanda, visto a dificuldade que muitos fornecedores estão tendo em encontrar insumos no mercado nacional, como plástico e metal. Estamos investindo em uma programação de estoque com os fornecedores para conseguirmos atender todos os pedidos, além de estarmos prospectando fornecedores substitutos de alguns insumos como forma preventiva”, explica.

Concepção

O processo de criação do ÁguaàLaser foi iniciado no encontro de Natal da família de Muriel Ornela, em 2019. “Eu conversava com meu primo, Ederson, especialista em engenharia de hardwares e softwares para máquinas e robôs de grandes indústrias, despretensiosamente, sobre o futuro da Beloar e dos nossos produtos. Mencionei sobre uma solicitação de uma grande indústria do setor frigorífico em que os órgãos governamentais exigiram dela que os bebedouros de água fossem sem contato, visto que ali era um local que precisava do máximo de higiene e poderia ser transmitido doenças das carnes dos animais para os humanos, e vice e versa. Citei que estávamos estudando formas de criar esse produto e ele sugeriu um bebedouro que liberasse a água por aproximação, via sensor de presença”, conta o empresário, que após essa conversa, ambos seguiram suas vidas.

O que ninguém esperava é que em março deste ano fosse iniciada a pandemia de Covid-19. “Quando foi divulgado o primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, liguei para o meu primo e disse que precisávamos montar uma equipe engenharia de desenvolvimento de produtos para criar esse novo produto, pois, como um dos principais meios de transmissão da doença é por contato, e o bebedouro é coletivo e de uso comum, seria necessário desenvolver um equipamento que não precisaria de encostar a mão para sair água. Desde então iniciamos o desenvolvimento do ÁguaàLaser. No início pensamos em criar o bebedouro completo com sensor, mas achamos que sairia muito caro para o consumidor e não serviria para quem já tinha o equipamento. Assim, achamos melhor criar torneiras com sensor adaptáveis para todos os modelos de bebedouros, e conseguimos”, explica.

Da ideia até a fabricação ÁguaàLaser, Muriel Ornela e sua equipe desbravaram um longo caminho até se ter invenção pronta. “Foi um trabalho árduo, mas com os especialistas e fornecedores certos conseguimos produzir um dispositivo com um ótimo custo-benefício. Contamos com parceiros das empresas que já eram nossos fornecedores para desenvolverem os insumos que precisávamos para construir um produto compacto, eficiente e seguro. Com muitas vídeo-chamadas por conta da pandemia, conversamos com os fabricantes de metais, plásticos, hardware e software. E ainda contratamos um escritório especialista em design e desenvolvimento de novos produtos”, destaca.

A Beloar desenvolveu quatro tipos de torneiras com sensor que se adaptam aos principais bebedouros do mercado: bebedouro industrial, bebedouro de pressão, bebedouro acessível e bebedouros de galão. Além disso, a empresa percebeu que poderia criar um adaptador universal para transformar torneiras comuns em torneira de sensor, visto que os produtos semelhantes do mercado são muito caros, de acordo com Muriel Ornela, que vende o dispositivo na loja on-line por R$ 250. “O nosso objetivo não é inutilizar equipamentos, mas sim aproveitar os bebedouros e torneiras já existentes, o que gera economia para quem compra e reduz o descarte de resíduos no meio ambiente”, afirma.

Tecnologia nacional supera a de fábricas multinacionais de torneiras com sensor

Muriel Ornela explica que o principal obstáculo tecnológico enfrentado pela equipe foi fazer com que o sensor infravermelho funcionasse no sol. “Começamos a conceber o produto com um sensor que já vinha pronto de fábrica, mas foi preciso criar um próprio, com uma tecnologia e código fonte desenvolvida por nós. Todos os sensores infravermelhos comercializados, inclusive de torneiras de grandes fabricantes nacionais e internacionais, como a XIAOMI, não possuem tal tecnologia e ou não funcionam no sol (não sai água quando o produto está exposto ao sol) ou sai água sem cessar (o sensor aciona sozinho e libera água sem necessidade). Todos esses fabricantes que utilizam esse tipo de sensor nas torneiras orientam que o produto não fique exposto ao sol, mas a maioria dos bebedouros ficam em áreas abertas e não poderia ter essa restrição. Com esse impasse, nossos engenheiros trabalharam muito no laboratório com testes e ensaios e conseguiram chegar em uma variável em que o produto funciona em qualquer ambiente. Podemos dizer que apesar de ser uma empresa nacional e de pequeno porte, conseguimos superar a tecnologia de grandes indústrias nacionais e internacionais”, conta com orgulho.

Leque de oportunidades

Por mais que o uso da invenção de Muriel Ornela seja mais percebido em razão da pandemia, há outros benefícios importantes, como a inclusão social. “Além da Covid-19 e prevenção de vírus, o produto atua também na linha do importante assunto e que hoje está em alta, que é a acessibilidade. Com a liberação do fluxo de água por sensor de aproximação, idosos, cadeirantes e pessoas amputadas poderão consumir água com mais facilidade, visto que só será preciso segurar seu copo ou garrafa, sem ser necessário apertar nenhum botão, o que gera mais independência por parte do indivíduo”, exemplifica.

Muriel Ornela é otimista com o futuro do dispositivo. “Acredito que a tecnologia de oferecer água sem contato veio para ficar, pois o Covid-19 é um vírus mortal, mas sabemos que muitos outros vírus, bactérias e doenças são transmitidos pelo contato com superfícies contaminadas: gripe, pneumonia, conjuntivite, hepatite A, gastroenterites, rotavírus, bronquiolite 1 , entre outros. E quem possui o hábito de lavar as mãos após encostar no bebedouro para pegar um copo de água? Eu não conheço ninguém. O bebedouro é um objeto característico, que todo mundo usa, mas quase ninguém o higieniza ou higieniza as mãos após utilizá-lo. A pessoa enche o copo de água ou garrafinha e volta para a sua mesa ou local de trabalho”, finaliza o empreendedor.

Sobre Karla Monteiro

Apaixonada por fotografia e shows desde criança, sou muito eclética para música e adoro ler.

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