O FOGO DAS MANIFESTAÇÕES ERA DE PALHA?

ManifestaçõesUma semana depois da explosão de protestos nas ruas do país, quase não se vê mais sinais das manifestações pacíficas nem do vandalismo que tentou contaminá-las. Apesar da manutenção da péssima qualidade do transporte público e da crise na representação política (anda flagrante e persistente), os movimentos de rua parecem ter perdido intensidade com o fim do evento internacional, a Copa das Confederações, ironicamente apelidado pelos ativistas de “Copa das Manifestações”.

Tudo indica que, agora, todos voltaram para casa ou entraram em férias. Não há outra explicação para o fato de não haver nenhuma passeata pedindo a cabeça dos presidentes da Câmara dos Deputados, deputado Henrique Alves (PMDB/RN), e do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB/AL). Pois não é que, em meio à turbulência que tomou conta do país, nos últimos quinze dias, eles requisitaram aeronaves da FAB para curtirem com familiares e amigos um jogo da Seleção Brasileira (Henrique Alves) e um casamento da filha de um colega (Renan Calheiros).

Quando as ruas davam lições de democracia, cobrando ética e responsabilidade com o dinheiro público, eles as ignoravam, olimpicamente; e mais, sabiam o tempo todo que, mais cedo ou mais tarde, como agora, seriam apanhados com a boca na botija. Só mesmo como muita convicção na impunidade para reincidir. Flagrados, ainda tentam respostas insustentáveis, para, no dia seguinte, admitir o erro e a devolução do dinheiro tomado. Renan disse que irá devolver R$ 32 mil do voo festivo, e Henrique Alves, apenas R$ 9,7 mil, de uma rota que teve dupla viagem, saindo de Brasília-Natal-Rio-Natal-Brasília.

Esses são os presidentes do Legislativo federal, que assumiram há seis meses debaixo de um temporal de denúncias e suspeitas, e que, por si só, já traziam suficientes razões para o impedimento de suas eleições e posses. O mundo político, deputados e senadores, com a conivência do governo, ignorou, realimentando a onda de impunidade. Não deu outra, reincidiram.

Registre-se ainda que o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, usou o mesmo passe aéreo livre, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, apontado aos quatro ventos como paladino da moralidade, também participou de voo da alegria.

Tudo misturado e somado, reforça-se, com a voz rouca e urgente das ruas, a necessidade da reforma política que ninguém quer fazer. Criam uma marola aqui, outra ali, para, no final, culparem-se uns aos outros pelo não feito. A oposição, que deveria fazer oposição, continua calada, observando aviões de carreira e da FAB pelos céus de Brasília, e as ruas que prometiam consertar o Brasil também se calaram.

Agora, alguns sindicatos chamam greve geral para o próximo dia 11, talvez, para dizer que estão aí também, mas esses, há muito pelegaram, e fazem, hoje, mais política partidária do que classista. Placar final, o Brasil ganhou a Copa das Confederações e os manifestantes voltaram para casa.

Autor: Orion Teixeira – Hoje em Dia

Sobre Ramon Rocha

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